Semana de Arte Moderna
Por Helios
Os “futuristas”, estes endiabrados e protervos futuristas de São Paulo – escol mental da nossa gloriosa terra de avanguardistas – vão realizar umas esplêndidas noitadas de arte durante a semana próxima.
Será uma semana histórica na vida literária do país. À sua frente estão nossos consagrados, aplaudidos em todo o país, como Graça Aranha, Guiomar Novaes, Brecheret, Ronald de Carvalho, Villa-Lobos, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, uma dezena de outros, dos quais o mais nanico, o mais opaco, o mais insignificante é Helios.
Pelo lado social – que a Semana de Arte Moderna será – depois do baile dos Campos Elísios – o maior acontecimento mundano da temporada – amparam-na, puxando a fila, as fidalgas e tradicionais figuras dos doutores Paulo Prado, Oscar Rodrigues Alves, René Thiollier e outros tantos patrícios do mais lídimo estofo da velha aristocracia bandeirante.
Como se vê, o “futurismo paulista”, que a horda passadista andou a acuar com ganas assassinas, tornou-se a coqueluche do “grand monde”. Sob tal pálio vai ele, talar, pontifical, resplandecer na sua apoteose merecida, reivindicação que é da expressão última de nossa mentalidade envolvida.
“A Semana de Arte Moderna” que constará de três noitadas literárias e musicais e de uma grande e complexa exposição de escultura, pintura e arquitetura, revelará o que São Paulo possui de mais culto, de mais sensacional em arte; realizar-se-á no teatro máximo da cidade, como disse, sob os auspícios da “elite paulistana”, devendo a ela comparecer nosso mundo oficial.
São Paulo, no mundo do pensamento, como em todos os ramos da atividade humana, é ainda o Estado que dá nota e dita o figurino no país. É na sua terra miraculosa e fecunda que todas as tentativas, as mais audazes encontram apoio e florescem. Esse gesto de aliança entre o escol social paulista e seu escol mental é o gesto mais belo para a afirmação da sua alta cultura e a segurança absoluta do seu predomínio espiritual em todo o país.
Eu que sempre me bati encarniçadamente pelo triunfo do “futurismo paulista” registro o sensacional acontecimento comovido e jubiloso. Há um pouco do meu obscuro esforço nessa vitória da justa causa. Oxalá os outros se contaminem das nossas ideias e se incorporem à geração nova, futurista, acabando-se de vez com as velhas vestes literárias que adoram o deus parnasiano que já morreu!
(Correio Paulistano, São Paulo, 7 de fevereiro de 1922, p.5 (coluna “Crônica Social”).
Referência
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). BNDIGITAL I: Correio Paulistano. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=090972_07&pasta=ano%20192&pesq=%22H%C3%A9lios%22&pagfis=7795. Acesso em: 12 mar. 2021.